O problema dos Virgens

 

Assim como o trabalho dá a sensação de utilidade o sexo cria a idéia inconsciente de eternização da espécie. Biologicamente somos apenas um mecanismo de perpetuação de genes. O conceito de vida abrange o nascer, crescer, reproduzir e morrer. O sexo faz parte da vida e a vida usa o sexo. Apesar de toda sua importância o sexo vem sido moralizado de uma forma dogmática que cerceia a liberdade de cada um pensar por si. Em um mundo já pensado o sexo também já o foi e ir de encontro desta força resulta em grande incompreensão por parte do cidadão comum. Toda forma de moral e valor possui uma resistência absoluta à mudança e deve ser assim por se tratar de instituições básicas e ocultas do animal instintivo que acordou em ser animal social: o homem. Tanto o trabalho como o sexo dão sentido à vida pois geram a própria vida e não é recomendado que se tente tirar o escopo principal do homem comum sem que possua o artefato de sua substituição. O trabalho e o sexo são os baluartes com os quais se mantém o mínimo da civilidade no homem deve ser assim a título de preservar o contrato social.

A sociedade como organismo inconscientemente vê cada indivíduo como forma de perpetuação do seu próprio corpo e acaba influindo no coletivo a necessidade da reprodução e diante disto o sexo acaba se tornando um dever e uma moral social. A sociedade quer que se faça sexo não porque ela fica feliz com o gozo alheio mas porque ela precisa que se faça sexo para sua própria perpetuação. As resultantes deste processo geram as falácias dogmáticas que gerindo o pensamento coletivo não lhes possibilita ter o livre-arbítrio de suas próprias funções fisiológicas sem que vá de encontro à esta força. Por isso que o homem que não transa é taxado de “virgem” “cabaço” e a mulher, em alguns casos, de “frígida”. A sociedade empurra todos para o ato sexual sem saber porque mas o faz e quem bate de frente com esta moral de dever transar sofre as represálias. O virgem que não tendo relações sexuais não dá causa à reprodução é uma expressão disto.

No meio masculino o virgem é tido como um erro, uma aberração social que deve ser “consertada”. O homem virgem carrega com si um fardo moral como se fosse um criminoso e acaba sendo visto como um partindo do ponto em que não tendo relações sexuais não irá se reproduzir, como se fosse um crime contra a humanidade não perpetuá-la. Este tipo de situação acaba ilustrando uma sociedade aleijada e decadente dos próprios princípios que se esqueceu do porque do porquê. O homem “para ser homem” basta que tenha relações sexuais pouco importando que ele assuma os seus atos, que pague as próprias contas e lave a própria cueca. Há homens que se acham homens por inserir um músculo em outro músculo mas basta ter que encarar os efeitos de suas próprias ações para que se escondam debaixo da saia da mãe, vivendo às custas do pai e não possuindo o menor senso de auto-suficiência. Enquanto isso o virgem que desde cedo sabe de suas responsabilidades para consigo e com a sociedade, trabalhando, estudando e se dedicando a algo construtivo, é tido como “o erro” somente por não transar e que precisa ser “consertado” urgentemente.

Da mesma forma que entre os homens existe a rejeição pelo virgem no meio feminino o mesmo princípio está inserido não raras as vezes em que da mesma forma. A mulher também é incitada ao sexo pelas amigas. Em um grupo feminino manter-se virgem é excluir-se da egrégora onde a mulher virgem acaba sentindo-se, e sendo, pressionada a perder a virgindade para que volte a comungar com a igualdade do grupo. Este tipo de pressão naturalmente ocorre menos do que entre os homens até mesmo porque para a mulher o sexo é algo mais íntimo e que se mantém mais preservado mas ocorre e de forma que atenta contra a expressão individual do ser. A pessoa consciente e que verdadeiramente se importa com a outra jamais irá pressionar uma pessoa a ter uma relação sexual que não queira ainda mais uma mulher que naturalmente precisa de mais envolvimento emocional para sentir-se livre para tal. Alguns homens reclamam de suas namoradas virgens que não lhes querem “ceder” mas estes mesmos não criam o mínimo ambiente de confiança e envolvimento para que a mulher se sinta segura do que faz e a mulher que não se sente bem com um homem está mais do que certa em não transar. Para a mulher muito mais do que o momento perfeito, a situação perfeita e o lugar perfeito é a pessoa perfeita.

A problemática intelectual se apresenta ao homem e à mulher que acabam sucumbindo à esta pressão e que tendo abalada a sua convicção praticam o sexo sem consciência. A escolha do sexo como meio ou como fim vai depender da moral ditada e do grau de resistência de cada um à esta força. Sendo o sexo utilizado como meio de perpetuação da espécie incorreria em niilismo e o problema maior, então, seria a destituição da moral socrática que não separaria o homem do animal. Não haveria diferença entre o homem e o animal onde ambos seriam movidos somente por instintos. O sexo então não teria sentido e as pessoas transariam apenas porque são movidas por um impulso social. Esta situação teria o amparo do sexo como nivelamento social. A sociedade vai nivelar as pessoas por quem faz mais ou menos sexo. Pode parecer uma sistemática maquiavélica mas ao observar que tudo passa por nivelamento (quem tem mais dinheiro, quem é mais bonito, quem é mais inteligente e etc.) não seria uma missão impossível manter sua própria escolha. E, tendo o sexo como fim haveria a desconsideração da inconsciência, dever e moral e da busca do sexo pelo sexo. Se faz o sexo não porque queira-se mostrar aos outros que o faz, porque é ou se sente obrigado, mas porque escolheu.

A moral sexual também se utiliza de falácias que nada mais representam os fins justificados pelos meios. Se a assertiva carece de validade ou não pouco importa o que vale é fazer as pessoas transarem mesmo que por meio de tendenciosas insinuações como “quem não transa não sabe o que é ser feliz”, “quem não transa é um derrotado”, “quem não transa é inferior”, “você não pega ninguém”, “você não é homem até que perca a virgindade”, “você não sabe o que está perdendo” e etc. Esta pressão social nada mais objetiva do que a perpetuação da espécie e o virgem convicto de suas escolhas ao ser pressionado deve ter ciência disto e se não quiser servir de mero objeto de reprodução de genes deverá ser firme e forte naquilo que se propôs. O sexo é uma forte instituição moral que cumprindo sua função social não pode ser desestruturada sem uma boa base, porém, não se tornando inválida uma sensata forma de resistência à idéia desde que respaldada em coerente motivação.

O homem e a mulher virgens não devem ser nem se sentir obrigados a transar. É necessário evocar um certo socratismo para não cair no niilismo de ver o homem como mero perpetuador da espécie. A pessoa deve ter o direito de escolher transar quando, com quem, como e da forma que (e se) quiser e não sendo possível inserir novos elementos no moldado pensamento coletivo que insere esta obrigação o virgem deve formar uma forte identidade e personalidade para não se deixar oprimir pelo grupo. Se não é possível mudar o grupo que o indivíduo seja forte de resistir ao grupo. O homem não deve servir de mero meio de perpetuação de genes para uma sociedade que não o serve. A pessoa que transa por sentir-se obrigado inconscientemente está sendo mero fantoche do meio que precisa dele para eternizar-se. Ter relações sexuais deve ser ato de consciência não de obrigação, de dever ou de moral. Deve ser ato de escolha acima de tudo. Maior é o virgem que escolhe ser virgem do que o que transa por sentir-se obrigado e sem saber porque o faz.

 

25 comentários sobre “O problema dos Virgens

  1. Wellington Ricardo disse:

    Achei esse texto muito bom, pois na forma que foi colocado o raciocínio faz uma critica as morais que roubam a “consciência do individuo” no sentido de forçar a pratica sexual ou também de querer impedir a pratica sexual, qualquer ação que não respeite os indivíduos deve ser combatida! As morais de “não faça isso ou aquilo” ou as morais que dizem “faça isso ou aquilo” são atentados contra nós! Temos que escolher, e mediante nossa consciência!

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  2. Iracy Lima disse:

    eu acho e tenho certeza,que o sexo só deve ser feito com amor, quando os dois decidirem,e ão há situação mais bela do que você comandar seus sentimentos,quer ser virgem? serás, em nada afetará, o socialismo dessa pessoa.até que decida se abrir para este ato que transcende a qualquer maneira de união.é união de duas energias positivas.

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  3. Celso disse:

    Concordo com o autor. Por mais tempo que passe a hora certa surge. E no momento o virgem vai entender que o verdadeiro sexo junta dois seres que se amam verdadeiramente e eleva as almas.

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  4. Aline de Nazaré do carmo santos disse:

    Concordo com você Rudy seu texto deixa bem claro sobre a questão das influências que os jovens tem enfrentado ,pois os mesmos se sentem pressionados até pelos própios pais a terem atitudes precipitadas em questões tão delicadas que é o sexo, que é algo para ser discutido e analizado de maneira bem precisa para que o jovem possa saber tomar as decisões de maneira ponderada em sua vida.Ter relações sexuais deve ser ato de consciência e não de obrigação

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  5. rita disse:

    Muito obrigada pelos seu textos. Eles têm me ajudado muito e esse em especial tocou num assunto que tem me aturdido há algum tempo devido às divergências entre minhas convicções e a pressão social.
    Você me deu mais uma certeza de que devo seguir meus ideais.
    Obrigada.

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  6. Thiago disse:

    Muito bom o texto e descreveu uma sensação que sempre tive em relação ao sexo, namoro e etc. Mas você esqueceu de citar que também as Mídias de comunicação colaboram para esse ciclo vicioso.

    Além disso, foi o principal motivo de eu ter sofrido Bullying na adolescência no tempo da escola.

    Eu era o famoso “BV” e não pegava ninguém. Além das provcações de das perseguições eu me sentia um zero a esquerda em relação a esse problema. Isso sem contar que era rotulado de feio entre as meninas da escola, e o mais interessante que as mesmas que me zuavam por isso, eram as mesmas que me desprezavam quando eu “tentava pegar mulher”

    Parecia e ainda parece que é obrigação “pegar mulher”, no mundo (principalmente entre os adolescentes) para ser “popular ou ousado”.

    Detesto me lembrar disso.

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  7. Karina disse:

    As pessoas deveriam se incomodar mais com suas vidas,geralmente são pessoas falidas de sentimento…por isso se metem na vida alheia..são frustradas pois se arrependeram d seus atos e quando veem q existem os que esperam o momento certo,as tratam como se fossem “coisas” por seu proprio fracasso interior.Pois como eu disse pessoas bem resolvidas ñ se importam com a vida alheia.

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  8. Jaqueline disse:

    Achei bastante interessante você ter abordado esse assunto sobre a virgindade! Realmente muitas pessoas se sentem precionadas a fazer sexo porque a sociedade assim exige e realmente concordo com você que deveriamos fazer sexo quando tivermos prontos e ao mesmo tempo com vontade e essa vontade vir de nós mesmos!

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  9. Diego Moura disse:

    Muito bom o texto, bem escrito e fala diretamente da realidade e da confusão adolescente, sobre a parte dos genes me lembrou muito Richard Dawkins no Gene egoísta rs o que não deixa de estar certo (:

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  10. antonio minas disse:

    O sexo é uma energia biológica muito poderosa, difícil de ser sublimada, principalmente na mocidade. As pessoas que não praticam sexo, no caso, os virgens geralmente são pessoas com bloqueios emocionais.
    Do que adianta se dizer virgem, que vai encontrar alguém especial se nas noites em que a solidão aberta apela para masturbação desenfreada.
    Vamos ser honestos é muito difícil sublimar a energia sexual, canalizar essa força para outros focos. Se fosse fácil em também seria solteiro.
    A sozinhez é enriquecedora…

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  11. Cavaleiro_Andante disse:

    Rudy tudo bem, olá pessoal, realmente Rudy suas palavras expressam a maior forma de revolução que é a informação e como ela é passada. Hoje eu não faço mais sexo, eu pratico o Tantra, onde a idéia de que o ato sexual é divino e sagrado. Acredito que grande parte da sociedade compreendesse que o tabu que foram impostos são apenas barreiras que podemos quebrar o sexo seria bem visto em todos os lugares e claro uma boa dose de responsabilidade que deve ser ensinada nas escolas e em casa é de grande valia. Para mim hoje o ato divino de fazer sexo com amor é inigualável, com o conhecimento e a prática do Tantra transformaram a minha forma de viver. Pensem em uma sociedade em que a maioria das pessoas fazem sexo com um propósito mais elevado, realmente deve ser muito espetacular.

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  12. Vitor disse:

    isso quando nao usam “virgem” como uma desculpa ou pra xingar qdo se é derrotado. Ja cansei de ver gente que está perdendo em algum jogo e mandar algo do tipo “pelo menos eu como mulher, vc nao”.

    uma coisa que me pergutno é se as pessoas se importam em saber com quem foi a primeria vez de seus companheiros. Nao sei se eu acharia legal ouvir que a primeira vez foi com uma ‘puta’

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  13. The Adversary of Humanity disse:

    Obrigado, obrigado, obrigado… Eu sempre soube que minhas escolhas seriam entendidas, explicadas e respeitadas algum dia.

    Excelente artigo, Rudy. Eu normalmente discordo de você em vários pontos, mas digo — com um certo orgulho, vale notar — que, pela primeira vez, concordei com absolutamente tudo que você disse.

    De fato, tenho vários amigos que estão sempre me perguntando coisas como “vamos na zona?”, “quer comer uma amiga minha? ela tá a fim de você”, u.s.w., e todos esses são os que sabem/desconfiam que sou virgem. Por causa disso, e de várias provocações que recebi até quando entrei para a faculdade, acabei começando a usar a ambiguidade dos fatos para manipular a interpretação das pessoas. Há dois dias tive que fazer isso no trabalho e foi um sucesso. Estava conversando sobre namoro com as senhoras que trabalham na cozinha, contando a elas spbre a menina que estou conhecendo e disse que essa menina tinha visitado a minha casa no ano passado para assistir um filme. Não dei detalhes. Elas automaticamente interpretaram como algo sexual e ficaram dando risadinhas e olhando para mim com aquela cara de “aaah, meteu o ferro nela, né?”. Isso me dá a impressão de que algumas pessoas respiram sexo e vêem malícia em quase tudo. Eu disse que a menina veio assistir um filme na minha casa, não que ela veio passar uma tarde transando. De qualquer forma, elas interpretaram como sacanagem e não me viram como um virgem — é dessa maneira que tenho “sobrevivido” no meio de tanta gente sexualmente ativa que acha que isso significa alguma coisa.

    Tenho amigos mais velhos que eu que também são virgens e sofrem pressão por isso. Não pressionamos um ao outro, mas, certa vez, acabamos combinamos de ir num prostíbulo próximo, mas ficamos sem dinheiro antes disso e acabamos adiando (para sempre, ao que parece). A pressão neles é ainda maior por causa da idade, com direito a piadinhas e ofensas familiares em função disso.

    As pessoas ainda não sabem aceitar os virgens. Elas não conseguem aceitar que alguém tenha mais auto-controle (ou timidez, ou auto-preservação, tanto faz), ou que simplesmente estejam esperando para transar com alguém de quem elas gostem de verdade. Elas querem homogeneidade, igualdade, sem tolerar alguém que tenha uma virtude ou defeito a mais do que elas. Aliás, elas só aceitam algumas pessoas com defeitos mais graves porque essas as fazem se sentir melhor.

    Já escolhi não transar em situações onde a única coisa que faltava era tirar a roupa, já ignorei ocasiões onde eu poderia ter transado sem esforço nenhum para conseguir isso. Respeito quem transa como se transar fosse dizer “bom dia”, mas prefiro transar com uma menina por quem eu sinta carinho e empatia em vez de simplesmente procurar uma one-night stand e me esquecer da menina no dia seguinte (lembrando que às vezes tenho recaídas e penso em dar uma com uma puta bonita e cara, mas isso felizmente nunca foi consumado).

    Finalizando: Parabéns pelo excelente texto, Rudy. Você conseguiu explicar muito bem a forma como os virgens são vistos e tratados por essa sociedade que se aproxima cada vez mais dos animais. Só aconselho que você procure usar um vocabulário mais limitado nos próximos artigos, já que o uso de palavras mais comumente usadas facilita muito o entendimento de um texto.

    Um grande abraço! Keep up the good work.

    J.

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  14. Sânia disse:

    Adorei seu texto, Rudy. Estas regras sufocantes onde a sociedade nos aprisiona, por vezes nos torna seres acéfalos e incapazes de pensar por si mesmos. Todos que seguem um caminho próprio e único são encarados como “ovelhas negras”, dissidentes de uma sociedade uniformizada. É claro que tudo é muito mais fácil quando seguimos o curso do rio, mesmo que queiramos simplesmente seguir para outro destino. Empunhar os remos da vida e seguir adiante contra a correnteza pode nos trazer grande satisfação, mesmo que tenhamos que trilhar vias estreitas e solitárias. Pelo que vejo estas vias estão se alargando e se tornando cada vez menos solitárias.

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  15. sergio disse:

    Muito inteligente a perspectiva abordada para o assunto da virgindade. Mostrou argumentos que não enxergamos por estarmos envolvidos na “capa social” criada pela sociedade (consciente ou não?) para a perpetuação da espécie. Parabéns, Rudy, acompanho seu blog e no orkut RC.

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  16. Nane disse:

    Muito interessante a abordagem, que aproxima homens e mulheres como sendo “vítimas” do mesmo tipo de pressão. Texto sem preconceitos, sem machismo e com bastante compreensão do lado feminino – sem ser piegas.
    Muito bom, Rudy!
    Beijo!

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