Mônica no Castelo do Brasil e a frustração do resto do mundo

 

Sabendo que o único hino patriótico do brasileiro é uma canção de um verso só e que apenas é cantado em copas do mundo, motivo de sua criação, entende-se porque o Brasil não tem uma nação. A obrigação moral e irresistível de ser patriota ecoa como baluarte de uma nova ordem social e que poderia visar, ao menos, honrar a ordem e o progresso, as conjecturas do lema nacional de um país sem nação. Para um Estado sem história, que ensina aos seus que sua independência surgiu de um barraco às margens de um rio e cujo povo jamais tenha se sacrificado por qualquer coisa, é compreensível que o ideal patriótico não seja seu O2. O patriotismo é a defesa do que foi conquistado por sangue e suor, desde o território à liberdade e o brasileiro jamais sangrou e suou por isto.

Compreendendo desta forma que o brasileiro não tem motivos históricos e culturais para ter sentimentos de amor e devoção à pátria, vislumbra-se de grande valia a manifestação do patriotismo desportivo, onde ao menos em competições esportivas ele expressa alguma forma de orgulho por ter nascido onde nasceu, mesmo que a cada 4 anos e por 5 ou 7 jogos de 2 tempos de 45 minutos. Em uma simples aplicação da lógica aristotélica tem-se que a ausência de similitude entre povos resulta naturalmente em diferentes tipos de patriotismo e é por meio disto que o americano tem orgulho por Lincoln, o inglês por Shakespeare, o alemão por Hegel, o japonês por Miyamoto e o brasileiro por Pelé. O patriotismo cultural em sua forma densa não está aculturado no Brasil.

Os legados culturais de Maurício de Souza, Ziraldo e Monteiro Lobato são jogados pra escanteio e pessoas que chutam bolas entre linhas são proclamadas como deuses no Brasil e assim são exportadas. O mundo que por isso não conhece a Turma da Mônica e o que ela representou na segunda infância de milhões de brasileiros, eivado de patriotismos rançosos e dissimuladamante competitivos e frustrado por sua ignorância de tal legado, passa a tripudiar, sem razão e sem motivo, um dos maiores jogos já lançados em todos os tempos: Mônica no Castelo do Dragão para o Master System pela Tec Toy em 1.991. A profanação do jogo pelo resto do mundo nada mais é que desespero pela ignorância e a frustração pela rejeição de quem não viveu isto.

De imediato percebe-se que todos os comentários do resto do mundo sobre o jogo devem ser desconsiderados por questão simples de lógica. Não é de causar espanto que pessoas que não tenham jogado o jogo no momento de seu lançamento não tenham nada a dizer. O racionalismo barato e contrabandeado daqueles que limitam-se a usar de subterfúgios sujos em suas opiniões e cujos sentidos jamais captaram a essência do jogo não tem como sobrepor-se à experiência objetiva e subjetiva de quem jogou o jogo e captou aquilo que lhe é transcendente. Jogar Mônica no Castelo do Dragão no cartucho com 9 anos é diferente de jogar a rom com 30, assim como jogar conhecendo toda a história por trás dos quadrinhos e não tendo a mínima noção do que se trata.

Europeus, descontentes em apenas fazer parte do Velho Mundo adotaram também o primitivo estágio da cognição schopenhaueriana e por motivos torpes e fúteis nada mais fazem que ridicularizar o jogo, queixando-se da reprogramação enquanto nada têm a dizer sobre Wonder Boy In Monster Land e trazendo tormentos lemurianos de uma eterna Auld Lang Syne à excelentíssima Coerência. A insustentabilidade das frases feitas evoca o número de vendas do console no resto do mundo, como se uma criança de 9 anos imersa no mundo de Mônica no Castelo do Dragão perdesse sua felicidade ao jogar porque em outro lugar o console vendia menos. E ainda falam mal do jogo sem ao menos saberem quem são a Mônica e o Capitão Feio.

A ignorância é a maior miséria que um homem pode experimentar e a criação e manutenção de elementos falsos a fim de nutrir a própria falta de conhecimento deve ser refutada. O brasileiro que já sabia ser gente à época dos 8 bits e que conhecia a Turma da Mônica é a única parte legítima para falar de Mônica no Castelo do Dragão. Pode chorar o quanto quiser. Pode falar que o jogo é ruim porque era difícil, porque não conseguiu terminar ou porque sempre fracassou, mas todos estes choramingos terão mais legitimidade do que as reclamações insensatas e infundadas do resto do mundo, de pessoas que não jogaram o cartucho de Mônica no Castelo do Dragão para o Master System lançado pela Tec Toy em 1.991 e que não fazem a mínima idéia do que é a Turma da Mônica.

Não obstante a não usual e interessante mescla do estilo plataforma com o gênero aventura açucarado com elementos de RPG, que fatalmente desinteressarão aos jogadores de nível precário, em um país notoriamente carente de densidade cultural e cujo patriotismo se vê fadado à torcida por bolas entre linhas, a obra literária de Maurício de Souza, reconhecida mundialmente pela autorização da Sega na reprogramação de Wonder Boy In Monster Land, figura como um dos maiores jogos da história do video game, que não só fez valer como poucos a política nacional de informática como mostrou ao mundo que o Brasil é capaz de produzir artefatos culturais de absoluta qualidade, mesmo que entre eras e com necessidade de árduo garimpo.

Mônica no Castelo do Dragão não é ruim porque o Master System vendeu mais no Brasil do que no Japão e nos Estados Unidos, não é ruim porque o Master System era mais barato que o Mega Drive e o Super Nintendo, não é ruim porque foi lançado pela Tec Toy, não é ruim porque o resto do mundo não jogou, não é ruim porque o Nintendo vendeu mais que o Master System, não é ruim porque não é Wonder Boy In Monster Land e, principalmente, não é ruim porque o resto do mundo não passou as tardes em que tinha 5 anos esperando sua mãe chegar do trabalho para trazer os gibis da Turma da Mônica que religiosamente leria todo dia antes de dormir para acordar cedo para ir à pré-escola. Se o resto do mundo não sabe quem é a Turma da Mônica, o problema é do resto do mundo.

 

18 comentários sobre “Mônica no Castelo do Brasil e a frustração do resto do mundo

  1. O Devaneio de Rute disse:

    Acho que o exterior é indiferente a este game.
    Maurício fez boas coisas, e a SEGA sempre fez regionalismos pra vender.
    Uns podem odiar Black Belt por ter apagados os traços do anime do jogo original, Hokuto no Ken. Qual o problema?

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  2. Dastan disse:

    Aproveitando que tocaram no assunto “ditadura”, decidi opinar sobre o tema.

    Se eu tivesse lido esse texto e seus respectivos comentários há alguns anos atrás, provavelmente concordaria com as opiniões nas quais utilizaram o argumento da ditadura para justificar que o brasileiro supostamente tenha sangrado por sua liberdade. Essa é a história(estória) que nos contam nas escolas e nas novelas.

    Hoje, depois de pesquisar por conta, minha visão sobre o tema mudou completamente. Primeiro, o Brasil não experimentou uma verdadeira ditadura, o que tivemos foi um regime militar. O povo clamou pela intervenção militar, pois estavam temendo que o país fosse tomado pelo comunismo e, aí sim, teriam experimentado uma verdadeira ditadura.

    Devido ao atual governo ser formado por vários ex-guerrilheiros(as) comunistas, tem-se falado mais sobre a suposta “ditadura”, inclusive criaram a tal “comissão da verdade” que serve apenas para deturpar a verdade e beneficiar seus “cumpanhero”. Com seus discursos de demagogos fazem o povão acreditar que foram verdadeiros heróis que lutaram contra a ditadura. Não passa de uma grande falácia que cola apenas porque nosso posso é extremamente alienado. A verdade é que não lutaram por liberdade, seu verdadeiro objetivo era derrubar o regime militar para implementar uma ditadura comunista com o apoio de Fidel Castro. Esses guerrilheiros praticavam assaltos, sequestros, torturas, assassinatos, atentados terroristas com carros bomba, etc. Se, na época da chamada “ditadura” o governo não tivesse agido com pulso firme contra esses terroristas, hoje, possivelmente, teríamos uma variação das FARC operando em solo brasileiro, ou, na pior das hipóteses, poderíamos estar vivendo em uma ditadura comunista igual a Cuba.

    Eram guerrilheiros treinados e perigosos. Inclusive, foram treinados em Cuba, se especializaram em táticas de guerrilha, assassinatos e afins.

    O Brasil não sabe o que é uma verdadeira ditadura graças ao tão criticado regime militar. O Lula adora falar em discursos suas célebres palavras “nunca antes na história desse país” quando se refere as obras (medidas eleitoreiras) do seu partido. Mas a verdade é que o período de maior crescimento econômico brasileiro foi durante o regime militar. A economia chegou a crescer 15% ao ano, várias estatais foram criadas, metrôs foram inaugurados, portos foram erguidos, estradas abertas e pavimentadas, etc. As pessoas podiam andar tranquilas nas ruas, mesmo nas madrugadas, sem medo que algum vagabundo protegido pelo governo a assaltasse ou matasse. Hoje, com a democracia brasileira, os cidadãos e cidadãs vivem trancados em suas casas, cercados por grades como tentativa de se proteger da violência. As drogas, principalmente o crack, estão destruindo famílias e aumentando a violência. Vagabundos armados até os dentes ficam aterrorizando as pessoas de bem e trabalhadoras e, enquanto isso, o governo tenta desarmar a população e cria cada vez mais leis que beneficiam marginais. E o povão aplaudindo esse lixo de governo de esquerda.

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  3. alexandre disse:

    Monica não poderia fazer sucesso porque wonder boy foi lançado antes pela sega, aqui no brasil era costume a tec-toy trocar a chave case dos jogos e colocar no lugar personagens tupiniquins, quem se lembra do jogo do geraldinho? e no super nes o jogo chamado do sonic 4, que era nada mais que o ligeirinho. Era muito comum as empresas fazerem isso.

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    1. Chris Galford disse:

      Sem falar nos famosos “campeonatos brasileiros” e nos “ronaldinho soccer” da vida.

      Até hoje se fazem isso, com os Bomba Patch.

      Monica não faria sucesso no resto do mundo, claro. O objetivo da tectoy em trocar o protagonista pela mônica e fazer o jogo ser em torno dela, foi exatamente pro público BRASILEIRO jogar. Porque o brasileiro em si vai se identificar muito mais com a mônica do que com um pequeno príncipe de saia.

      Assim como fizeram no Didi e a mina encantada, no ronaldinho soccer, no bomba patch, no pokémon em português pra PC…

      Chama-se localização e adaptação. Na época do master system ninguém ia lembrar de trazer um jogo daqueles pra cá. Não foi o mesmo BOOM do alex kidd, mas se não fosse pela mônica, ninguém no brasil conheceria wonderboy, ainda que indiretamente.

      Os ROMHacks da era digital [traduções de grupos como Aeon Genesis, os “Kaizo” do super mario world, ou patches de tradução de eroge] são meio que uma continuação disso.

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  4. Geese disse:

    Cara, vc fala demais tentando falar bonito. O resultado é muito ruim. Esquece aquele monte de regras de dissertação, procure escrever como se estivesse falando para os seus amigos e não para os leitores da seção de livros da Veja…

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  5. Thiago dos Santos disse:

    Primeira vez, e primeira cousa sua que leio
    Posso não concorda com o que você diz, na verdade, concordo, sim.
    E tenho de reconhecer.
    Você escreve muitíssimo bem, muito bem mesmo, uma raridade em tempos de internet, portanto, gostaria de lhe falar:
    Cuidado, às vezes o seu estilo áspero pode machucar ou afugentar as pessoas.
    Você tem talento, invista, tente, de início, trabalhar escrevendo coluna pra’lgum jornal, pode ser até mesmo aqueles tablóides saguinolentos de vinte e cinco centavos, e escrever um, vários, livros em diferentes gêneros. Desejo-lhe sorte pois o dom você já tem.
    E, finalmente, como você faz para escrever tão bem, gostaria de aprender.

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  6. Iuri disse:

    Calma pessoal !
    O menino não falou só bobagem.
    Precisamos ser mais patriotas para que o Brasil possa ascender como nação.
    Para isso precisamos EDUCAR o povo, que não é apenas instruir.
    E essa educação como cidadão terá que ser feita na escola, por professores de qualidade.

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  7. Érika disse:

    esse cara deve ser tão mimado que jamais viu as lutas pelas quais nosso povo sangra! Vide as ditaduras, como nosso amigo ali falou.

    E se nós fazemos greves, somos vagabundos. Se não fazemos, não lutamos por nossos direitos.

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  8. Walber disse:

    Eu normalmente escrevo aqui só pra criticar as coisas q o rapaz escreve, mas dessa vez, devo admitir q ele está corretíssimo, e é devido a tal comportamento descrito q o Brasil não é nada além de PIADA no resto do mundo. Eu concordo com o q a rapaziada escreveu, e não me lembro de ter visto nenhum comentário depreciativo acerca do jogo (e disso eu discordo do sr.), mas o comportamento do brasileiro realmente é esse aí mesmo. Se não for com o jogo da Mônica, então é com outras coisas!

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  9. Raphael disse:

    “Europeus, descontentes em apenas fazer parte do Velho Mundo adotaram também o primitivo estágio da cognição schopenhaueriana e por motivos torpes e fúteis nada mais fazem que ridicularizar o jogo…”

    cognição schopenhaueriana?
    agora caiu minha ficha, o texto é de sacanagem

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  10. Leandro disse:

    Não tinha como Mônica Castelo do Dragão fazer sucesso no resto do mundo. Todo mundo já havia jogado o Wonder Boy antes! Onde que tem a informação de estrangeiros ridicularizando o jogo?

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  11. Hykle disse:

    “O patriotismo é a defesa do que foi conquistado por sangue e suor, desde o território à liberdade e o brasileiro jamais sangrou e suou por isto.” Claro que jamais sangrou. Olhe a época da ditadura, as diretas já, o impeachment, e outros fatos na nossa história. Mas não. O brasileiro jamais sangrou pela sua liberdade -.-

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